O Caminho de Ferro Revisitado

O Caminho de Ferro Revisitado - Edições CP
O Caminho de Ferro em Portugal 1836-1996
Preço para funcionários da CP e Empresas Afiliadas: 7 600$00 (1996)
Preço para Público em geral: 12 600$00 (1996)
Páginas: 446
1996

Excerto do Livro:

Prof. Joel Serrão
(…)
«Em 1842, pugnando pela abertura de estradas, pois se considerava demasiado utópico
pensar-se por então em caminhos de ferro, escrevia-se na Revista Universal Lisbonense, de
Castilho: "as estradas são indispensáveis por mais de um motivo; são indispensáveis para que
as produções e os homems possam circular. É preciso que a população rural venha à cidade
e a urbana vá ao campo. Sem esta fusão, Portugal não obstante ser tão pequeno, não há-de
ser nação nem o seu governo será senão Lisboa e alguma coisa do Porto."
Ora tal situação, que provinha de muito longe, só principiaria a ser efectiva e profundamente
alterada pelos caminhos de ferro, cujo primeiro troço, de Lisboa ao Carregado, foi
inaugurado em 1856, com 31 anos de atraso relativamente a facto semelhante na Inglaterra
21 anos na Bélgica e na Alemanha, 19 na França e 18 na Rússia.
Fora tardia e lenta a difusão da máquina a vapor em Portugal. Embore date de 1817 a
primeira tentativa, aliás não efectivada, de introdução de uma dessas máquinas com fins
industriais, só em 1835 isso viria a acontecer. Reveste-se da maior importância a verificação
de que é na resolução do problema dos transportes nacionais que a máquina a vapor surgirá,
pela primeira vez, no País: em 1821, na navegação do tejo e, em 1823, na ligação marítima
entre Lisboa e Porto, a qual em 1825 utilizava dois barcos.
Quanto a comboios, principiara a falar-se neles, com alguma insistência, a partir de 1840
embora ninguém alimentasse por essa época esperanças sobre a proximidade da sua
instalação no País. Todavia, não é menos certo que, mediante as descrições jornalísticas das
maravilhas ferroviárias do estrangeiro, "onde a rapidez do homem excede a do vento"
criava um clima de expectativa, contra o qual reagiam, por motivos vários, Garrett,
Herculano, o conde do Lavradio, entre outros. O autor de Viagens na Minha Terra recusava-se a crer na viabilidade dos caminhos de ferro portugueses e pronunciava-se antes pela abertura de estradas, o que se lhe afigurava mais consentâneo quer com as possibilidades quer com as necessidades portuguesas; Herculano, prestando embora justiça ao contributo fundamental do comboio para o progresso material dos povos, entendia, não obstante, que o "melhoramento social e moral dos povos" nada tinha a ver com tal invento; por seu turno, o conde do Lavradio contestava, em debate
parlamentar com Costa Cabral, que as realidades económica e demográfica portuguesas
suportassem a instalação caríssima de tão revolucionário meio de transporte.»
(…)(vários, O Caminho de Ferro Revisitado, Ed. CP, Lisboa, 1996, p.10/11)

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